Carpinejar: o universo da perfomance

Não me deixe viver
o que eu posso,
que me seja permitido
desaprender os limites

. Fabrício Carpinejar .

Está na seção Perfil da Revista Florense n.º 15 (Primavera/2007). Muito interessante, e eu adoraria ter linkado aqui, mas o site da revista está com problemas. Então deixo aqui uma parte interessante:

De uns quatro anos para cá, ele aprendeu a desaprender. Seu estilo metafísico e epigramático se acasalou com o mundo do espetáculo de uma forma inusitada. “Cansei de ser triste”, diz. “Hoje, não tenho mais vergonha do que eu sou”. E brinca com isso, com seu sem-jeito, com sua autoproclamada feiúra (não é para tanto…), com a timidez, com a gagueira (também não é tanta assim), com os exageros que comete nas inúmeras palestras que dá pelo Brasil afora e no talk show litero-filosófico que comanda no Café de Bordo, em São Leopoldo (RS), onde mora e trabalha como professor de literatura da Unisinos. Dá aula de crônica e poesia no curso de Formação de Escritores e Agentes Literários, e de redação criativa no Curso de Formação de Produtores e Músicos de Rock. Vive com Ana, sua segunda mulher, e o filho, Vicente, de 5 anos. A filha Mariana, de 13, mora em Brasília e já começou a fazer música e versos. A saudade dos filhos o estimulou a escrever o livro Meu filho, minha filha, lançado em 2006 pela editora Bertrand. É um conjunto de elegias sobre a ausência e a impossibilidade de amor os filhos completamente – e a sensação de continuidade:

Quando leio meus filhos
conto as páginas que faltam
para o final do livro.
Por mais que me apresse
Não estarei aqui
Para completar a leitura”

A escritura de Carpinejar é assim, densa de não-ditos e paradoxos, de abandono no escrito, que é trambém uma inscrição, a ser lida e concluída num futuro distante, na ausência do poeta. Como se sua poesia fosse um imenso diário e uma lápide precoce. Com o passar do tempo, cresce o contraste entre a atual persona espalhafatosa, que aparece em saraus literários com uma ostensiva camisa vermelha do Internacional, de Porto Alegre, e o melancólico cantor da finitude e da separação. Compõe à filha um canto sintomático:

Eu não me arrisco a voltar
para a infância.
Já foi difícil sair dela uma vez

Por Luís Antônio Giron

Também achei interessante o fato de descobrir neste artigo que Carpinejar foi um dos primeiros blogueiros profissionais. De acordo com Giron, quem quiser conhecê-lo a fundo e sem máscaras basta clicar no seguinte endereço: http://fabriciocarpinejar.blogger.com.br.

E um trecho que eu não poderia deixar de citar:

Eu ouço poesia em toda parte, no trem, na rua, sempre encontro uma preciosidade coloquial. Fazer poesia é saber condensar e compor o material vivo. A poesia existe para conversar com o leitor, sair da palavra. A poesia não é feita de palavras. Ela é feita da falta de palavras. Quanto mais subentendido for, melhor”.

. Fabrício Carpinejar .

5 comentários em “Carpinejar: o universo da perfomance

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  1. Carpinejar, fui tua colega na FABICO, mas tenho certeza que não lembras de mim. Agora moro em Paris, mas mesmo de longe acompanho teu trabalho e sou muito tua fã. Tuas poesias enxem meu espírito de alegria, traduzem o q sinto e completam meus pensantos. Muita sorte na tua vida e q tu possas continuar a nos enriquecer com tuas sábias palavras.

    Luciana Michel

  2. “lápide precoce” foi interessante.

    Não sei se por sua primorosa escolha de trechos ou pelo conteúdo em si, gostei muito do indivíduo.

    Algo que aprendi mas raramente uso em proveito próprio por minhas auto impostas limitações é que limites são sempre super estimados, e muito faz quem os desconsidera.

    🙂

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