Por Ediane Tiago
20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
quando
De 14 a 24 de agosto, das 10 às 22 horas
onde
Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi
A 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começa quinta-feira no Pavilhão de Exposições do Anhembi, ocorre em um novo ano de resultados marcantes para o setor e anima os editores em sua obstinação quase histórica de ampliar o mercado. Agora, com uma visão amplificada de possibilidades, inspirada em ações que se descolam de eventuais iniciativas governamentais para efeitos internos e alcançam o exterior.
Neste ano, a mostra recebe investimentos de R$ 21 milhões. Será montada em um espaço de 70 mil m² e congregará 350 expositores nacionais e estrangeiros – que mostrarão as novidades de 900 selos editoriais. A expectativa é de superar o público da última edição, quando 811 mil pessoas visitaram o evento. “Esperamos um milhão de visitantes”, diz Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), que organiza a Bienal. Entre os diferenciais deste ano está a criação de um espaço infantil com 2 mil m² e a integração da Bienal com o 7º Congresso Ibero-americano de Editores, que reunirá o setor livreiro entre os dias 11 e 13 de agosto na capital paulista.
Divulgar o mercado editorial brasileiro em 2008 tem um significado especial. A Bienal coincide com o bicentenário da chegada da família real portuguesa, que marcou de fato o início da indústria gráfica e do livro no país, com a criação da imprensa e da Biblioteca Nacional. Pela vontade de d. João VI, desembarcou em território brasileiro o acervo da Real Biblioteca, com 60 mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas. O objetivo era proteger a coleção da invasão das tropas de Napoleão e satisfazer o hábito de leitura do monarca que chegava para viver em um país distante e sem condições de publicar um volume sequer. O desafio, 200 anos depois, é entender e atender às necessidades de um país com quase 190 milhões de habitantes, dos quais 55% foram considerados leitores em um estudo chamado “Retratos da Leitura no Brasil”, realizado pelo Instituto Pró-Livro em 2006 e divulgado no ano passado (respondiam como leitores os que haviam lido pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa).
Breno Lerner, da Melhoramentos: faturamento maior com estratégia de distribuição “multicanal”, para vencer distâncias que as livrarias não conseguem cobrir.
Como mercado editorial, o Brasil evoluiu bastante desde a chegada da família real. Segundo os últimos dados apurados pela CBL, em 2006 foram produzidos (entre primeiras edições e reedições) 310,3 milhões de livros, o que gerou uma receita de R$ 2,8 bilhões. Os números indicam aumento de 14,79% na produção, em relação a 2005, e de 11,97% no faturamento. “Embora o balanço ainda não esteja pronto, em 2007 observamos crescimento e a tendência se mantém na receita de 2008”, diz Rosely.
Luis Alves Júnior, diretor da Editora Global, comemora o bom desempenho do setor e atribui o sucesso ao crescimento geral da economia. “Todo o setor produtivo está investindo bastante e não é diferente com as editoras.” Para ele, é hora de diversificar a produção, ir a campo, testar novos livros e autores e encontrar nichos diferenciados. “Temos uma linha que aposta na literatura produzida na periferia das cidades. Estamos encontrando coisas fantásticas, o que tem nos animado muito a trabalhar em novos filões.”
O objetivo de Alves Júnior é o de fomentar segmentos pouco explorados pelo mercado editorial, principalmente o de literatura. “Se ficarmos próximos da linguagem de pessoas com poder aquisitivo menor, abrimos as portas para um mercado que está além das livrarias.” Como parte dessa estratégia, a Global levará para a Bienal Ademiro Alves, que assina suas obras como Sacolinha e tem feito um “importante trabalho literário” em comunidades pobres da zona sul de São Paulo.
Apesar da produção crescente, editores se queixam de que os brasileiros lêem e compram pouco, se feita a comparação com outros países. Segundo um relatório do instituto de pesquisas Euromonitor, em 2002 a quantidade de livros per capita adquirida pelos brasileiros foi de 2 exemplares, enquanto os chineses compraram 6, os japoneses 11, os taiwaneses 9, os italianos 5, os espanhóis 6 e os russos 3. “Falta estímulo à leitura, não há modelos dentro de casa. As crianças crescem sem ver os pais lerem”, lamenta Miriam Gabbai, editora-executiva da Calli, especializada em livros infantis.
De acordo com o estudo do Instituto Pró-Livro, as dificuldades de leitura declaradas pelos entrevistados configuram um quadro de má formação das habilidades necessárias, possivelmente causadas, em boa parte, pela fragilidade do processo educacional. Entre os respondentes, 17% alegam ler muito devagar, 7% afirmaram que não compreendem o que lêem, 11% dizem não ter paciência para a leitura e 7% queixam-se da falta de concentração. “Precisamos de uma política mais assertiva em relação à leitura. É uma questão de inclusão social”, comenta Alves Júnior, da Global.
Apesar dos problemas com a qualidade da educação, entre outros, inclusive de saúde, associados a baixos níveis de renda, alguns empresários acreditam que o gargalo está na distribuição. Breno Lerner, diretor da Editora Melhoramentos, acredita que o brasileiro “adora ler”. Para atender leitores no país inteiro, a empresa adotou uma estratégia que ele chama de “multicanal”, que abrange livrarias, internet, venda direta e vendedores porta a porta. Com isso, a editora viu o faturamento crescer 40% em 2007, quando comparado a 2006, e estima que a receita aumente mais 12% em 2008. “O problema é que as livrarias ficam distante das pessoas. Nos últimos anos, o poder aquisitivos das classes C e D aumentou bastante. Eles querem livros, mas estão longe das lojas.”
O acesso aos livros é um problema também identificado pelo estudo do Instituto Pró-Livro, principalmente no que diz respeito ao acesso às bibliotecas. O estudo revela que, embora o Ministério da Cultura afirme que quase 90% dos municípios brasileiros possuem, ao menos, uma biblioteca, apenas 66% dos entrevistados confirmam a existência delas e somente 10% as freqüentam. “Não adianta colocar a biblioteca e não atualizar o acervo. Se atualizada e bem utilizada, uma biblioteca pode fazer milagres”, diz Miriam, da Calli.
Diante desse cenário, a CBL acredita em um movimento de transformação no mercado de livros no Brasil, que crescerá com base em investimentos e em ações da iniciativa privada. Segundo Rosely Boschini, ninguém tomará o papel do governo, que é o de investir continuamente em educação, mas as editoras estão mais atuantes na criação de público e o setor tem recebido apoio de grandes empresas. A Bienal deste ano atraiu patrocinadores como Volkswagen e Petróleo Ipiranga e tem o co-patrocínio do HSBC e Submarino. São colaborações que refletem um interesse mais geral pela elevação do nível de informação do brasileiro. “O país está crescendo e o setor produtivo sofre com a falta de mão-de-obra qualificada. Só com bons programas educacionais e incentivos à leitura será possível crescer de forma sustentável”, avalia Rosely.
Além das ações para ampliar o mercado interno, a CBL assinou, no fim de julho, um convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O objetivo é difundir o livro produzido no Brasil no mercado internacional por meio de um conjunto de iniciativas como a venda de direitos autorais, participação em feiras e eventos internacionais e programas de incentivo às exportações. “O mercado editorial brasileiro ainda é muito fechado, não divulga nem vende suas obras no exterior. É hora de mudar isso”, afirma Alessandro Teixeira, presidente da Apex-Brasil.
O investimento total no projeto, para os próximos dois anos, é de US$ 1,563 mihão, 50% bancados pela Apex-Brasil e o restante rateado entre as 28 editoras inscritas no projeto – entre as quais, Melhoramentos, Cosac Naify, Callis, Global, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Senac, Unesp, Gente. “Assim como outros países, temos conteúdo muito bom e podemos exportar”, acredita Lerner, da Melhoramentos.
De acordo com dados divulgados pela CBL e pela Apex, o Brasil vendeu para outros países 8.999 títulos em 2005, o que gerou a exportação de 2,9 milhões de exemplares e receita de R$ 5,6 milhões. Em 2006, houve um crescimento de quase 50% no faturamento com exportação, por meio da venda de 8.747 títulos e a remessa de 3,3 milhões de exemplares. Já o mercado de vendas de direitos autorais é bem menor. Enquanto no Brasil, em 2006, foram pagos R$ 194 milhões em direitos autorais, as vendas ao exterior foram de apenas R$ 14, 4 milhões, menos de 10% do que é arrecadado no país.
Para Teixeira, da Apex, este é um número pequeno para um país que ocupa, segundo dados do Euromonitor 2003, a sétima posição no ranking do mercado em volume de exemplares e é o maior produtor e consumidor da América Latina. “Temos uma imagem de excelência no mundo. Os consumidores e os livreiros reconhecem a qualidade dos livros produzidos no Brasil. Vamos aproveitar este potencial”, garante.
Teixeira ainda afirma que mais de 60 países já possuem obras de autores brasileiros em seus catálogos, incluindo a venda de direitos autorais ou de livros acabados. Os estudos da agência também identificaram que o interesse pela cultura e pela literatura brasileiras tem crescido bastante nos últimos anos. “Além disso, somos competitivos na oferta de produtos e podemos atender bem mercados como o europeu, o latino-americano e até o chinês”, acredita Teixeira.
Os planos da Apex incluem ações de divulgação e aumento da inserção de obras brasileiras no mercado internacional, vendendo, no primeiro ano do programa, 15% dos títulos que serão apresentados. “No segundo ano, queremos crescer mais 20%, alcançando um total de 80 títulos”, diz Teixeira.
Fonte: Valor Economico
a daqui do RJ é show! só fui na de SP uma vez…
Moro em São Paulo e nunca fui na Bienal, quem sabe este ano eu vá!