A Verdade

A verdade algumas vezes a escolho de um romance. Na vida real, recebemo-la como ela sai dos encontrados casos, ou da lógica implacável das coisas; mas, na novela, custa-nos a sofrer que o autor, se inventa, não invente melhor; e, se copia, não minta por amor a arte. O romance que estriba na verdade o seu merecimento é frio, é impertinente, é uma coisa que não sacode os nervos, nem tira a gente, sequer uma temporada, enquanto ele nos lembra, deste jogo de nora, cujos alcatruzes somos, uns a subir, outros a descer, movidos pela manivela do egoísmo. A verdade! Se ela é feia, para que oferecê-la em painéis ao público?! {…} Isto é que eu submeto à decisão do leitor inteligente. Fatos e não teses é o que eu trago aqui. O pintor retrata uns olhos, e não explica as funções do aparelho visual”

. Camilo Castelo Branco in Amor de Perdição .