DL 2011: O Quinze

TEMA: Literatura Brasileira
MÊS: Agosto


Livro:
O Quinze
Autor(a): Rachel de Queiroz
Editora: José Olympio
Páginas: 112

Nota: 4
(sendo: 1- Não gostei 2- Gostei pouco; 3- Gostei; 4- Gostei bastante; 5Adorei)

 

O Quinze é um romance seco e doloroso que trata da grande seca que assolou o sertão em 1915 e da qual Rachel de Queiroz ouviu muito falar em sua infância. A autora conseguiu transmitir em suas palavras toda a misério do povo retirante e criou quadros desoladores descrevendo cenas terríveis da fome e da seca. Este livro dói.

A história se divide em dois planos: um que enfoca o relacionamento afetivo de Vicente e Conceição e o outro com um peso bem maior que enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família. Conceição é uma moça culta, professora na cidade e que passa suas férias na fazenda da Família em Quixadá. A avó, Mãe Nácia, arreigada as velhas tradições se preocupava com a neta que já tinha 22 anos e não pensava em casar, apesar de ficar de gracejos com Vicente, seu primo. Vicente era criador rude de gados, apaixonado por suas terras e reses e quando todos decidiram abandonar o sertão na seca, inclusive Conceição e Mãe Nácia, ficou e resistiu lutando bravamente. Apesar das diferenças, ambos se gostam, muito embora os acontecimentos da vida os tenham mantido separados por toda a história.

O outro foco, e o mais importante do livro, é sobre o vaqueiro Chico Bento que é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhava e sair em busca de novas oportunidades com sua mulher e seus 5 filhos. Com a venda de algumas reses soltas pela Mãe Nácia, Chico junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra e inicia sua trágica e penosa marcha em direção ao Amazonas, onde pretende trabalhar com extração de borracha. A viagem é tão seca e dura quanto o clima. Num determinado momento da viagem, desesperado de fome, um dos filhos de Chico come mandioca crua e agoniza até a morte, envenenado. As descrições que Rachel faz dessa viagem e dessas cenas são tão perfeitas que parecem quadros mostrando a realidade crua. Separei um trecho que achei lindíssimo, apesar da tristeza:

“O sol poente chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado, no horizonte próximo.
Sombras cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum arruado.
Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.
Uma forma esguia de mulher se ajoelhou no chão vermelho.
Um vulto seco se acocorou ao lado, e mergulhou a cabeça vazia entre os joelhos agudos, amaprando-a com as mãos.
Só um menino, em pé, isolado, olhava pensativamente o grupo agachado de fraqueza e cansaço.
Sua voz dolente os chamou, num apelo de esperança.
E sua mão se destacou no fundo escuro da tarde apontando o casario, além.
Mas a única aparência de vida, no grupo imóvel, era o choro intermitente e abafado de uma criança.
Lentamente, o menino se voltou. Ainda esperou algum tempo. Ainda repetiu seu apelo e seu gesto.
Depois saiu devagar, de cabeça erguida, os olhos fitos nos telhados pretos que se espalhavam lá longe.
Leve e doce, o aracati soprava.
E lentamente foi-se abatendo sobre eles a noite escura pontilhada de estrelas, seca e limpa como um manto de ciznas onde luzissem faúlhas”.

Realmente fiquei impressionada com este livro e com a narrativa de Rachel de Queiroz. O que mais gostei foi a simplicidade da linguagem, a qual não esperava por ser um clássico da literatura. Mesmo quando é Conceição, a professoa, quem está falando, o diálogo é espontâneo e cotidiano, o que tornou a leitura agradável apesar de toda a amargura que a história carrega.

A história de amor entre Vicente e Conceição que poderia ser o lado bom da história também não é, já que há uma falta de comunicação entre ambos além do disnível cultural que os levam a um desfecho infeliz. É como se a seca não fosse responsável apenas pelas misérias da fome, mas também pela impossibilidade de ser feliz.

Leitura recomendada! 

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2 comentários em “DL 2011: O Quinze

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