Planeta Vivo

Somos um planeta vivo, Sofia! Somos um grande barco navegando ao redor de um sol incandescente no universo. Mas cada um de nós é um barco em si mesmo, um barco carregado de genes navegando pela vida. Se conseguirmos levar esta carga ao porto mais próximo, nossa vida não terá sido em vão”

. Jostein Gaarder in O Mundo de Sofia .

Manhãs e Silêncios

Aquela como uma vontade de ser feliz, de haver alguma ordem ou estar noutro lugar onde fosse possível sentar ao sol comendo maçãs, deixava também de ser como um estar-à-beira-de-qualquer-coisa-boa. Campainha e telefone mudos, a manhã a transformar-se em tarde, emergia venenosa a sufocação, vontade de fugir, de não ser quem era nem ter vivido nenhuma das coisas que vivera. Todo um passado, essa coisa que chamam de passado, desembocava ali naquele momento, em pleno centro das manhãs esbranquiçadas de silêncio”.

. Caio Fernando Abreu in Estranhos Estrangeiros .

Caminho

Às vezes, podemos escolher o caminho por onde seguimos. Em outras, nossas escolhas já foram feitas. E algumas vezes, simplesmente não temos escolha”.

. Neil Gaiman in Sandman .

Entender seu Semelhante

A fala, originalmente, era o mecanismo pelo qual o Homem aprendia, de modo imperfeito, a transmitir os pensamentos e emoções de sua mente ao criar sons arbitrários e combinações de sons para representar certas nuances mentais, ele desenvolveu um método de comunicação – mas um que era tão desajeitado e tão inadequado que degenerou toda a delicadeza da mente em sinais rudes e culturais.
Cada vez mais fundo, os resultados podiam ser vistos; e todo o sofrimento que a humanidade já conhecera podia remontar ao fato de que nenhum homem na história da Galáxia – até o surgimento de Hari Seldon e poucos homens depois – jamais pôde entender seu semelhante. Todo ser humano vive por trás de uma parede impenetrável de névoa asfixiante dentro da qual só ele existe. Ocasionalmente, surgiam os vagos sinais de dentro da caverna onde localizava-se outro homem 0 para que cada um pudesse caminhar, tateando, na direção do outro. Mas como não se conheciam e não ousavam confiar um no outro, e sentiam desde a infância os terrores e inseguranças daquele isolamento completo… Havia o medo de um homem contra o outro, a avidez selvagem de um homem contra o outro.
Os pés, por dezenas de milhares de anos, patinavam e se arrastavam na lama – retendo as mentes que, durante este tempo, já estavam prontas para as estrelas.

Isaac Asimov in Segunda Fundação

Encarar o fato

Por que eles culpam a mim pelos seus defeitos? Usam meu nome como se eu passasse o dia inteiro instigando-os a cometerem atos que, de outra forma, achariam repulsivos. ‘O demônio me forçou’. Nunca forcei ninguém a fazer nada. Nunca. Eles vivem suas vidas medíocres. Eu não as controlo de maneira alguma. Então eles morrem, vêm para cá (tendo transgredido o que acreditavam ser certo) e esperam que seus desejos de dor e retribuição sejam satisfeitos por nós. Eu não os faço vir para cá. Eles falam de mim como se eu andasse por aí comprando almas na feira, e nunca pararam para se perguntar por quê. Eu não preciso de almas. E como alguém pode comprar uma alma? Não. Eles pertencem a si mesmos… Mas odeiam ter que encarar o fato”.

. Neil Gaiman in Sandman .

Fracasso

Diga-me, em qual local do mundo há vencedores numa guerra? O conflito só existe porque houve fracasso, seja o resultado que ele tiver. Sim, minha querida, os seres humanos são os únicos a compreenderem-se por palavras. Desenvolvem retóricas, dialéticas, gramáticas, filosofia e ética. Produzem os mais diversos tipos de linguagem. Estudam à exaustão a diplomacia e veem-se incapazes de chegar a uma solução pacífica. Os medos, os anseios, a ganância, a soberba, a hybris, a riqueza ou a pobreza impedem que compreendam seus iguais. A nossa forma de ‘inteligência’ fez com que nos transformássemos em predadores. Algozes de nós mesmos. Ainda não consigo entender o grau de loucura com que uma pessoa se reveste para, seguindo ordens de superiores, matar seu igual ou atentar contra a vida de alguém, não importa o quanto este outro seja diferente. Autodefesa? Duvido. A maioria das guerras foram decididas por interesses econômicos. Então, quando há o primeiro ferimento e a primeira morte, não importa se de um soldado ou de um civil, as partes envolvidas se tornaram perdedoras. A vida tem um preço inestimável, imensurável. Nada justifica a sua perda. Desse modo, desconheço qualquer vencedor na Segunda Grande Guerra. Todos tiveram baixas. Todos sofreram muito.

Ana Paula Bergamasco in Apátrida