Não podem acreditar…

{…} alguns deles são escritores
ou querem ser escritores
e estão em empregos estúpidos e horríveis
e não conseguem nem encarar a sala
o apartamento
as paredes
essa noite…
querem alguém com quem possam conversar
não podem acreditar 
que não posso ajudá-los
que não conheço as palavras
não podem acreditar
que agora mesmo
me dobro em meu quarto
segurando minhas entranhas
e dizendo
“Jesus Jesus Jesus, 
de novo não!”
eles não podem acreditar
que as pessoas mal-amadas
as ruas
a solidão
as paredes
também são minhas”.

. Charles Bukowski in O Amor é um Cão dos Diabos .

Reflexão

Se não for pra provocar reflexão, não vale a pena escrever. Nunca desejei ser beletrista. Quando, tanto tempo atrás, comecei a fazer crônica no jornal e as pessoas vinham me dizer:’Marina, você está escrevendo muito bem’, eu ficava um pouco desapontada, pensava: ‘Escrever bem muita gente sabe, quero que me digam que estou pensando bem’. É no fio do pensamento conjugado com a emoção que se faz a melhor literatura. O meu propósito, portanto, inclui uma escrita de reflexão, capaz de surpreender, de cravar-se como uma cunha no pensamento do leitor, provocando-o, pelo menos por um tempo. O ideal é que a pessoa leia um miniconto, um poema, um texto, e feche o livro sentindo-se plena, alimentada. E que esse sentimento perdure. Eu quero ser bala de hortelã para o resto do dia na boca daquela pessoa”.

. Marina Colasanti in Nos Caminhos da Literatura .

Igualmente culpado

Não acredito que a guerra seja apenas obra de políticos e capitalistas. Ah, não, o homem comum é igualmente culpado; caso contrário, os povos e as nações teriam se rebelado há muito tempo! Há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas, e tudo o que foi cuidadosamente construído, cultivado e criado será cortado e destruído, só pra começar outra vez!”.

. Anne Frank .

Só tenho a mim

Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher… Em que ‘mundo deserto’ eu caminho, tão árido, só tendo o oásis de minha autoestima intermitente… Falo do amor de forma mística, sei o preço. Sou inteligente, muito exigente e muito engenhosa para alguém ser capaz de se encarregar completamente de mim. Ninguém me conhece nem me ama completamente. Só tenho a mim”.

Simone de Beauvoir .

Trechos do Diário de Simone publicados por Hazel Rowley.

E, mesmo assim…

Pra mim, é praticamente impossível construir a vida sobre um alicerce de caos, sofrimento e morte. Vejo o mundo se transformando aos poucos numa selva, ouço o trovão que se aproxima e que, um dia, irá nos destruir também, sinto o sofrimento de milhares. E, mesmo assim, quando olho pra o céu, sinto de algum modo que tudo mudará para melhor, que a crueldade também terminará, que a paz e a tranquilidade voltarão. Enquanto isso, devo me agarrar aos meus ideais. Talvez chegue o dia em que eu possa realizá-los!”.

. Anne Frank .

Garantia Única

Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade”.

. Clarice Lispector in Água Viva .