Os livros são o reflexo fiel do que o gênio humano, mais ou menos inspirado, produziu? Mal se coloca, a questão desorienta. Como não nos lembrar imediatamente daquelas fornalhas onde tantos livros continuam a se consumir? Como se os livros e a liberdade de expressão de que eles logo vieram a se tornar símbolo tivessem engendrado inúmeros censores preocupados em controlar seu uso e sua distribuição, e às vezes confiscá-los para sempre. E, quando não foi o caso de destruição organizada, foram bibliotecas inteiras que o fogo, por simples paixão de queimar e reduzir a cinzas, levou ao silêncio – as fogueiras vindo como que alimentar-se umas às outras até consolidar a ideia de que essa incontrolável profusão legitimava uma forma de regulação. Logo, a história da produção dos livros é indissociável da de um verdadeiro bibliocausto, sempre recomeçado. Censura, ignorância, imbecilidade, inquisição, auto de fé, negligência, distração, incêndio terão assim constituído outros tantos escolhos, às vezes foices, no caminho dos livros. Todos os esforços de arquivamento e conservação nunca impediram que Divinas Comédias permanecessem para sempre desconhecidas.
Jean-Philippe de Tonnac in Não Contem com o Fim do Livro
O livro não depende do meio onde está impresso. Ele só precisa ser lido.