De um corredor às alamedas

Qual é essa guerra que travamos, na evidência de nossa derrota? Manhã após manhã, já exaustos com todas essas batalhas que vêm, reconduzimos o pavor do cotidiano, esse corredor sem fim que, nas derradeiras horas, valerá como destino por ter sido longamente percorrido. Sim, meu anjo, eis o cotidiano: enfadonho, vazio e submerso em tristezas. As alamedas do inferno não são estanhas a isso; lá caímos um dia por termos ficado ali muito tempo. De um corredor ás alamedas: então se dá a queda, sem choque nem surpresa. Cada dia reatamos com a tristeza do corredor e, passo após passo, executamos o caminho da nossa sombria danação.
Ele terá visto as alamedas? Como se nasce, depois de se ter caído? Que pupilas novas em olhos calcinados? Onde começa a guerra, e onde cessa o combate?

Então, uma camélia.

Muriel Barbery in A Elegância do Ouriço


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