
Por Patrícia Rocha [12-07-2018 às 14h30]

Depois, em 1959, passou a escrever os textos que ganhavam o nome de Helen Palmer na coluna Feira de Utilidades do Correio da Manhã. E agora uma saborosa seleção dos escritos de Clarice no início dos anos 1960 chegam às livrarias com o nome e sobrenome de sua autora, em Correio para Mulheres.
Uma leitura deliciosa do início ao fim, a coletânea é a chance de mergulhar ainda mais no universo de Clarice e também a prova de que a autora de títulos como A Hora da Estrela e Laços de Família era capaz de transformar dicas de moda, beleza e comportamento, receitas para sono agitado e segredos de uma boa dona de casa em mote para fazer a leitora pensar.
“A beleza não tem idade. A mulher inteligente sabe isso”, escreve ela. Ao anunciar a tendência do momento, faz questão de pontuar: “Moda é moda, mas quem manda mesmo é você”. Mais adiante, pede para “não confundir futilidade, denguice e falta de personalidade com feminilidade”.
Mesmo quando o texto parte de uma premissa datada, mais muito em voga à época, como as estratégias para manter o marido sempre interessado, Clarice não abre mão da ironia e da provocação:
“Um rosto bonito, uma figura elegante sempre exercem grande poder sobre eles. A mulher que ama um deles tem de fazer tudo para prendê-lo, portanto, e esse tudo é a sedução diária e constante. Eu sei, minha amiga. É cansativo isso, e um pouco tolo, mas que se há de fazer?”.
A coletânea “Correio para Mulheres” reúne textos de Clarice Lispector publicados em colunas para mulheres no início dos anos 1960. Lançamento da editora Rocco, 400 páginas, R$ 49,90.
Veja outras frases de Clarice:
“O pessimista está sempre arranjando um jeito de acomodar as coisas ao seu pessimismo.”
“Você, minha leitora, não limite o seu interesse apenas à arte de embelezar-se, de ser elegante, de atrair os olhares masculinos. A futilidade é fraqueza superada pela mulher esclarecida. E você é uma mulher esclarecida, não é mesmo?”
“Conselho é aquilo que não aceitamos porque desejamos experiência; e experiência é o que nos resta depois que perdemos tudo o mais.”
Fonte: Revista Donna
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