NÃO ME LIVRO

“Até pensei em dar os livros de minha coleção para os amigos que abrigo com ternura no coração. Mas ao contrário da intenção, no armário mora a literatura, cujo olor perdura e se desfaz em minha mão. Assumo o ciúme, o costume de egoísmos que em mim tem verdadeiro crivo. Da minha obsessão não me LIVRO! Guardarei os volumes que jogam lumes nos meus dias de então como os malhos diários que iluminam cenários na minha imaginação”.

. João Pedro Roriz .

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Identidade

“Um homem tem muitas mortes:
aquela que irá morrer porque nasce
aquela que matará o seu batismo
ou o simples nome que lhe é atribuído
enfim todas aquelas em que morrerão
as máscaras sociais
com que foi sendo vestida a sua vida”.

. Carlos Vogt in Poesia Reunida .

Tesouro Escondido

Sou bibliotecária, trabalho em uma biblioteca escolar e estava reunindo alguns livros de poesia para uma pesquisa com a professora de língua portuguesa, quando encontrei esse livro. Abri exatamente neste poema:

PARADOXO
O homem não crê
na humanidade
do homem.

E foi aí que o livro me engoliu pra dentro dele e não parei de ler mais, quase perdi a hora da atividade. Levei pra casa e terminei no final de semana. Não conhecia esse autora, mas os poemas dele me encantaram. São, em sua maioria, curtos, mas muito atuais e reais. As vezes cínicos, bastante críticos, cheios de reflexão. E toda leitura que traz reflexão, que faz pensar, vale muito a pena. Super recomendo. Um Tesouro escondido nas estantes da biblioteca.

Luz e escuridão (Reescrito)

“Verifico que, tantas vezes alegre,
tantas vezes contente, estou sempre triste”
Fernando Pessoa

Ela tenta, já sabendo que vai falhar, esquecê-lo enquanto colhe as flores para levar à mesa da casa de sua mãe. Não quer amá-lo, nem desejar sua escuridão e seu sorriso sombrio, mas sempre que é primavera e os dias claros invadem as janelas do imenso castelo em que vive com sua mãe nessa época do ano, a falta que sente dele é um sem nome de sentimentos que não consegue explicar.

Os passos lentos entre as flores do campo é um retrato imperfeito da letargia em que sua alma se encontra quando está sob o sol e o ar impregnado de aromas doces preenche os pulmões e o peito de esperança e uma alegria que poderia ser completa, mas desde que o conhecera não era mais. Até mesmo no interior do castelo a luz se faz intensamente presente em todos os cômodos. Não havia sequer um canto de sombra, um ponto de escuridão que pudesse, de alguma forma, amenizar a saudade.

Sorri ao chegar à mesa com as flores colhidas, como tem que ser ao estar ali. Ouve as palavras de carinho de sua amada mãe e se sente confortada, quase feliz. As conversas, as horas, os sorrisos, os carinhos, as tarefas diárias naquela época do ano eram ótimas, não poderia reclamar, mas sempre falta alguma coisa. E o sorriso se desmancha quando está sozinha, a luz do olhar se apaga um pouco tentando relembrar, voltar ao lado sombrio em que ele estará presente.

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Resenha: Tartarugas até lá embaixo!

Livro: Tartarugas até lá embaixo.
Autor(a): John Green
Editora:
Intrínseca
Páginas: 266

Nota: 4
(1- Não gostei 2- Gostei pouco; 3- Gostei; 4- Gostei bastante; 5Adorei)

Um pouco triste, um TUDO de vida real.
Terminei esse livro extremamente emocionada. Sei que John Green é visto por muitos como escritor de historinhas de adolescente e, no fim, é mesmo isso que ele é, mas eu não vejo isso como negativo. Eu também tenho um pouco de preguiça de alguns romances adolescentes muito bobinhos, mas definitivamente não é o que acontece com John Green. Ele sempre traz algum assunto bem profundo junto com a adolescência e nos envolve de alguma forma, nos fazendo refletir muito sobre as dores e problemas do outro. John Green escreve sobre empatia. E precisamos MUITO disso hoje em dia.

Neste livro, o assunto é transtorno de ansiedade e TOC. É uma enorme angústia mergulhar junto com Aza Holmes, nossa protagonista, em suas espirais de pensamentos que vão ficando cada vez mais fortes e acabam levando-a a acreditar em certas coisas num grau muito elevado, excluindo-a do convívio com as pessoas, afastando-a dos mais queridos e deixando-a completamente atordoada em situações que para qualquer outra pessoa seriam coisas simples, que sequer chegariam a pensar sobre. E, se você já passou por algum tipo de dor emocional, mesmo que em graus mais amenos, vai ser impossível não se reconhecer em algumas dessas situações.

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Convenções…

“_Silêncio! Algo muito sutil me passa pela cabeça. Que é o tempo, afinal? – perguntou Hans Castorp […] – Você pode me dizer? Percebemos o espaço com os nossos sentidos, por meio da vista e do tato. Muito bem! Mas que órgão possuímos para perceber o tempo? Você pode me responder? Aí você empaca, está vendo? Como é possível medir uma coisa da qual, no fundo, nada sabemos, nada, nem uma de suas características sequer? Dizemos que o tempo passa. Está bem, que passe. Mas para que pudéssemos  medi-lo… Espero um pouco! Para que o tempo fosse mensurável, seria preciso que decorresse de um modo uniforme; e onde está escrito que é mesmo assim? Para a nossa consciência, não é. Somente o supomos, para a boa ordem das coisas, e nossas medidas, permita-me essa observação, não passam de convenções…”.

. Thomas Mann in A Montanha Mágica .