COLUNA “Entre Aspas”
Jornal Tribuna Liberal de Sumaré pag. 12

Dica de Leitura: Tartarugas até lá embaixo – John Green
Um pouco triste, mas um TUDO de vida real.
Terminei esse livro extremamente emocionada. Sei que John Green é visto por muitos como escritor de historinhas de adolescente e, no fim, é mesmo isso que ele é, mas eu não vejo isso como negativo. Eu também tenho um pouco de preguiça de alguns romances adolescentes muito bobinhos, mas definitivamente não é o que acontece com John Green. Ele sempre traz algum assunto bem profundo junto com a adolescência e nos envolve de alguma forma, nos fazendo refletir muito sobre as dores e problemas do outro. John Green escreve sobre empatia. E precisamos MUITO disso hoje em dia.
“Qualquer um pode olhar pra você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu”.
Neste livro, o assunto é transtorno de ansiedade e TOC. É uma enorme angústia mergulhar junto com Aza Holmes, nossa protagonista, em suas espirais de pensamentos que vão ficando cada vez mais fortes e acabam levando-a a acreditar em certas coisas num grau muito elevado, excluindo-a do convívio com as pessoas, afastando-a dos mais queridos e deixando-a completamente atordoada em situações que para qualquer outra pessoa seriam coisas simples, que sequer chegariam a pensar sobre. E, se você já passou por algum tipo de dor emocional, mesmo que em graus mais amenos, vai ser impossível não se reconhecer em algumas dessas situações.
“No fundo ninguém entende o que se passa com o outro. Está todo mundo preso dentro de si mesmo”.
John Green nos presenteia com uma narração clara dos pensamentos da protagonista, da forma como eles começam e até onde a levam, da briga interna dela com os pensamentos, de como as pessoas ao redor lidam com isso, pensam sobre isso. São diversas visões diferentes do mesmo problema que faz com que você mergulhe intensamente neles e é impossível não se sentir ligado a isso de alguma forma, e refletindo sobre como tantas pessoas devem estar passando por isso todos os dias e nem desconfiamos, e as vezes somos até rudes ou intolerantes com as pessoas, por não pensarmos nas lutas internas que devem estar travando. Mostra também como é difícil para os que estão muito próximos saber como ajudar, e o que fazer pra amenizar essas crises e situações. Ambos os lados sofrem muito.
“Estar vivo é sentir saudade”.
Aza tem uma melhor amiga, uma mãe muito amorosa e um velho amigo de infância que tentam o tempo todo ajudá-la nesses conflitos. Acho que o mais importante desse livro é mostrar que, principalmente nas doenças emocionais e mentais, sempre é preciso buscar ajuda profissional. Aza também tem uma analista muito querida que durante todo o processo vai ajudando-a a entender melhor o que está acontecendo. Fica a importante mensagem que não estamos sozinhos, e pedir ajuda não é uma fraqueza, nem vergonhoso, pelo contrário, é um ato de coragem e amor próprio.
Pra mim a leitura desse livro foi emocionante também porque ganhei de um amigo muito querido, Carlos Rogério Sartori, num momento em que passei por algo emocional muito difícil em minha vida. Tanto que abandonei, por um período, até mesmo a leitura que é o que eu mais amo fazer na vida. Acabei não lendo o livro na época, pois estava muito dentro da situação e acabei me afastando e me isolando. Mas quando o li, tempos depois, mesmo já estando super bem, me emocionei com o presente, principalmente porque foi lindo que esse amigo tenha tentado me ajudar, além de tantas outras formas, através da literatura. A literatura salva. Ambos acreditamos nisso.
O livro tem um desfecho que está longe de ser um final feliz e como a própria Aza nos diz no livro…. “O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais”. Foi o final que o livro poderia e deveria ter, dentro de todos os acontecimentos e de todos os fatos, era o melhor que poderia ser… Nada 100% resolvido, um pouco triste, um TUDO de vida real. Ah, e o título do livro é genialmente explicado no finalzinho da história! Fica, como disse na resenha toda, a necessidade de aceitação do problema que o livro nos demonstra, e que precisamos muito sim, de ajuda, de amigos, de pessoas que realmente se importem. E lembrar sempre, que apesar de não conseguirmos enxergar que alguém se importa quando estamos dentro da crise, algumas pessoas realmente se importam e estas são as que devemos manter ao nosso lado.
Recomendo muito a leitura. A quem já passou por algo parecido, àqueles que convivem com alguém que está passando por algo parecido e a todos! Aprender e refletir nunca é demais.
EVELYN RUANI
Bibliotecária e leitora compulsiva! Apaixonada por livros e palavras.
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