COLUNA “Entre Aspas”

Jornal Tribuna Liberal de Sumaré pag. 12

Dica de Leitura: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

Dia 25 de julho se comemora o dia Nacional do Escritor. Esse dia foi escolhido pelo ex-ministro da Educação e Cultura Pedro Paulo Penido, em 1960, para homenagear escritoras e escritores brasileiros. A escolha dessa data deve-se à realização do I Festival do Escritor Brasileiro, patrocinado pela União Brasileira de Escritores (UBE), que ocorreu em 25 de julho de 1960.

Para comemorar essa data, escolhi um livro da minha escritora favorita, Clarice Lispector para a Dica de Leitura dessa semana. Essa autora nacional maravilhosa que escreveu ao Jornal do Brasil que “não se ‘faz’ uma frase. A frase nasce”, e que em resposta à pergunta “Por que você escreve” na única entrevista para a televisão que deu na vida, disse: “Por que você bebe água?”. Clarice era assim, nasceu pronta, já escritora e nos presenteou com livros que trazem reflexão e aprendizado, principalmente sobre nós mesmos. Nos faz questionar, põe o dedo na ferida e nos tira do lugar comum.

 “Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente”.

Este foi o primeiro romance de Clarice que eu li e confesso que amei logo de cara. A narrativa é simples e deliciosa e é impossível não se apaixonar pelas personagens tão extraordinariamente criadas por Clarice. A história vai te envolvendo aos poucos e você se vê totalmente cativado pelas dúvidas e questionamentos de Lóri, a personagem principal, que está perdida pois não entende direito o que é “ser”.

Ulisses, seu namorado e professor de Filosofia, tenta ajudá-la a entender esse mistério e como é agradável o prazer de simplesmente existir. Durante todo o desenrolar da história, ele a desafia para refletir sobre os acontecimentos, rotineiros ou não, de sua vida e a ajuda a descobrir quem ela é, o que gosta, quais são as atitudes que lhe dão prazer, o que a desagrada.

Clarice propõe a reflexão sobre diversos conflitos emocionais e usa de uma liberdade de escrita maravilhosa, afinal uma das características famosas desse livro é que ele começa com uma vírgula e termina com dois pontos.

E há tanto mais a dizer sobre esse livro, mas minhas próprias palavras não seriam suficientes, então escolhi um trecho da própria autora que falará por si só da qualidade narrativa e beleza indescritível deste livro:

“Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia”.

Leitura super recomendada!

Vou ficar muito feliz se me escreverem contando o que acharam da leitura!! E se por acaso quiserem alguma leitura específica, podem me pedir pelo email!! Boa semana e ótimas leituras!!

EVELYN RUANI
Bibliotecária e leitora compulsiva! Apaixonada por livros e palavras.
SERVIÇO
Blog: http://blogentreaspas.com
Instagram: @blog_entreaspas
Email: entreaspasb@gmail.com

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