Resenha: O Lustre

Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Páginas: 271
Nota: 3
(1.Não gostei 2.Gostei pouco; 3.Gostei;
4.Gostei bastante; 5.Adorei)
Pela primeira vez, a leitura de Clarice foi bastante desafiante pra mim. Talvez por não me sentir ligada à personagem principal, Virgínia, que me deixou bastante irritada em muitos momentos com sua passividade inicial e seus desmaios. Ao longo da história isso vai mudando e consegui uma fluidez maior na leitura, mas ainda assim não senti nem de longe o que costumo sentir ao ler os livros dessa autora maravilhosa que é a minha favorita da vida!
Esse romance foi escrito em 1946, logo após o lançamento de Perto do Coração Selvagem, que foi um sucesso absoluto. O Lustre não trouxe tantas críticas positivas como Clarice esperava e até questionou os amigos do porque não estava recebendo nenhuma devolutiva do livro, como recebeu do anterior. Alguns críticos julgam ele muito parecido com o primeiro que até então revolucionou e modernizou a forma de escrever, mas eu, particularmente não vi tamanha semelhança.
Clarice tem sim um jeito diferente de escrever, como um fluxo de consciência que acontece tão rápido como o nosso pensamento e as vezes nos deixa perdidos na cronologia da história (o que nem de longe impede a experiência literária, ao meu ver. Pelo contrário, a enriquece!), mas as histórias são bem diferentes e me identifiquei muito mais com Joana do que com Virgínia, que demorou demais pra encontrar a própria força e ainda assim demonstrava certa apatia e passividade em relação a alguns personagens e situações.
O lustre conta a história de Virgínia desde a sua infância em Granja Quieta até a vida solitária na cidade. O título remete ao Lustre da casa paterna no interior que a atraía e assustava quando pequena.
“Havia o lustre. A grande aranha escandecia. Olhava-o imóvel, inquieta, parecia pressentir uma vida terrível. Aquela existência de gelo”.
Pode-se fazer uma associação à vida que Virgínia viria a ter: terrível, isolada e sem afetos. Na infância, Virgínia nutre um amor e admiração sem limites pelo irmão com quem vive os dias em Granja Quieta. São muito unidos, porém Daniel, é perverso e cria uma “Sociedade das Sombras” que só tem os dois como membros e se utiliza do poder dessa sociedade para subjugar Virgínia as mais inoportunas situações, as quais ela obedece sem pestanejar.
Embora possa parecer desumano, não consegui nutrir uma compaixão pela protagonista, pois vamos descobrindo que a passividade não tem nenhuma ligação com bondade e que Virgínia também traz traços de maldade em si e por isso essa ligação doentia que se fez entre os dois. Quando crescem, se separam e Virgínia vai viver na cidade, e até se torna um pouco mais ativa, porém não se liberta das lembranças do passado que a atormentam a cada passo e acaba criando relações negativas com as pessoas e aumentando sua solidão. Muito me pareceu que a relação doentia criada com o irmão na infância fora o derradeiro de sua existência, mantendo-a sempre presa às lembranças.
Me parece impossível trazer uma impressão definitiva do que seja esse romance, tamanhas são as metáforas e a inconstância dessa obra. Ela abre diversas possibilidades de interpretação e acredito que atinja a cada um de uma forma diferente, de acordo com suas bagagens e experiências. Me foi MUITO difícil dar menos de 5 estrelas para Clarice, pois sou muito fã de sua genialidade de escrita e de suas obras, mas não podia deixar de ser sincera, como o sempre faço em todas as minhas resenhas, e infelizmente essa obra em específico, não me atingiu como todas as demais que li da autora.
Ainda assim, recomendo a leitura a todos aqueles que são fãs, para conhecerem todas as suas vertentes. Aos iniciantes, indicaria outras obras dela, como Uma Aprendizagem e o Livro dos Prazeres, Felicidade Clandestina e A descoberta do Mundo!