Resenha: Kindred – Laços de Sangue

Livro: Kindred, laços de sangue
Autora: Octavia E. Butler
Editora: @editoramorrobranco
Páginas: 432
Nota: 5/5

Butler nos apresenta a protagonista Dana, uma mulher negra que está completando vinte seis anos em 1976 e acabou de se mudar com seu marido para um novo apartamento. Ambos estão arrumando as estantes de livros, quando Dana se sente mal e cai de joelhos nauseada e seu mundo começa a sumir. Quando abre os olhos novamente, está em 1815 em uma fazenda escravocrata onde conhece Rufus, uma criança branca que aparentemente é um de seus ancestrais.

Dana começa então uma vida de viagens ao passado e ao presente sempre ajudando Rufus e passando por diversas situações terríveis e que colocam tanto a vida dele como a sua em risco, e que trazem reflexões extremamente pesadas, mas atuais e importantes. É angustiante acompanhar as viagens, seus medos por ser uma mulher negra que aparece em um mundo onde negros eram perseguidos, maltratados, açoitados até a morte.

Ao longo da leitura vamos aprendendo junto com ela, como essas viagens acontecem e desvendando cada vez mais sobre sua história, mas é desesperador não saber quando a viagem vai acontecer e o que a aguarda do outro lado cada vez que ela acontece. A relação de Dana com seu marido que a princípio não acredita nela, mas que acaba na tentativa de ajudá-la indo com ela para o passado em uma de suas viagens, é muito bonita e cheia de aprendizados e crescimento.

Todo o livro é um aprendizado e uma reflexão muito grande. As cenas são descritas por Butler de uma forma tão verdadeira, que a gente sente a dor como se estivesse acontecendo conosco, ou ao nosso lado, ali ao alcance das mãos. Me vi emocionada e em total desespero em várias cenas e desejando do fundo do meu coração que elas não fossem um retrato fiel da nossa triste história.

Entrou para os favoritos e recomendo muito a leitura!

Resenha: Memórias de uma Moça Bem-Comportada

Livro: Memórias de uma moça bem-comportada
Autora: Simone de Beauvoir
Editora: @novafronteira
Páginas: 320
Nota: 5/5

Esse foi o primeiro livro que li da Simone de Beauvoir e já me conquistou totalmente. Memórias de uma moça bem comportada é uma autobiografia dividida em quatro partes onde Simone nos conta desde sua infância até sua vida adulta.

O tom de crítica à sociedade e aos papéis impostos às mulheres já começa pelo título e desenha toda a narrativa até o último parágrafo. Ao contrário do que imaginei, sua escrita é fluída e em muitos momentos me lembrou Clarice Lispector e Virgínia Woolf, muito embora Simone seja o típo de autora singular e originalíssima.

Também me identifiquei com sua personalidade em diversas passagens, sempre buscando a leitura, o conhecimento e aprender coisas novas, e se indignando com o único destino possível às mulheres de sua época: casamento e filhos. Em determinado momento se vê sozinha, já que seus pensamentos e opiniões fortes à afastam da mãe e da irmã e já tinha sido separada da melhor amiga e seu grande amor ZaZa já que a moça era vista como péssima influência a Simone já que eram muito parecidas.

Simone segue até a fase adulta fiel ao que acreditava, buscando conforto nos estudos por campos de atuação propositalmente contrários aos paradigmas de uma moça bem comportada, como a matemática e as línguas, e na leitura de livros proibidos às mulheres, sobretudo de Filosofia.

Tornou-se escritora, filósofa, intelectual, ativista e professora, além de ter sido Integrante do movimento existencialista francês e até hoje ser considerada uma das maiores teóricas do feminismo moderno.

“Serviria à humanidade; que melhor presente lhe podia dar do que livros?”.

Virei fã e destaquei inúmeras passagens maravilhosas. Já quero ler tudo dela e recomendo muitíssimo a leitura.

Resenha: Carta a Minha Filha

Livro: Carta a Minha Filha
Autora: Maya Angelou
Editora: @editoraagir
Páginas: 144
Nota: 5/5

“Eu dei à luz uma criança, um filho, mas tenho milhares de filhas. Vocês são negras e brancas, judias e muçulmanas, asiáticas, falantes de espanhol, nativas da América e das ilhas Aleutas. Vocês são gordas e magras, lindas e feias, gays e héteros, cultas e iletradas, e estou falando com todas vocês. Eis aqui minha oferenda”.

Obrigada é muito pouco diante da gratidão que sinto por essa obra ter sido escrita e por termos a oportunidade de lê-la. Maya nos presenteia com uma narrativa cheia de amor, esperança, positivismo e conselhos que só uma mãe poderia compartilhar conosco. O tom é materno, a voz fala aos nossos corações e suas palavras trazem reflexões e aprendizados para a vida, hoje e sempre.

Dividido em 28 capítulos, encontramos desde narrativas de situações vividas a poemas, conselhos, canções e eles se mesclam entre dor e amor, angústia e alento, drama e comédia. Como eu costumo dizer: a vida como ela é. Maya nos traz palavras que nos dão coragem para lutar e nos tornamos protagonistas de nossa própria história. Aborda assuntos como lar, racismo, violência, religião, costumes e faz isso de uma forma tão cativante, íntima e confessional que é impossível parar até acabar.

Através de seus relatos, Maya nos mostra seus avanços em viver a vida da melhor maneira possível tentando sempre manter o otimismo e a esperança, apesar de todas as situações terríveis das quais foi vítima.

“O navio da minha vida pode ou não estar navegando por mares calmos e tranquilos. Os dias desafiadores da minha existência podem ou não ser brilhantes e promissores. Em dias tempestuosos ou ensolarados, em noites gloriosas ou solitárias, mantenho uma atitude de gratidão. Se insisto em ser pessimista, há sempre o amanhã. Hoje eu sou abençoada”.

Esse livro é seu testemunho de luta, um tocante relado de vida. Super recomendo a leitura!
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Estreiteza de Visão

“Das mulheres se espera que sejam muito calmas, de modo geral. Mas as mulheres sentem como os homens. Necessitam de exercício para suas faculdades e espaço para os seus esforços, assim como seus irmãos; sofrem com uma restrição rígida demais, com uma estagnação absoluta demais, exatamente como sofreriam os homens. E é uma estreiteza de visão por parte de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas deveriam se confinar a preparar pudim e tricotar meias, a tocar piano e bordar bolsas. É insensato condená-las ou rir delas se buscam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou necessário ao seu sexo.”

. Charlotte Brönte in Jane Eyre .

Bomba

“Enquanto houver um cientista inescrupuloso e um político sujo no mundo, eles se juntarão e farão uma bomba pelo primeiro motivo bobo que encontrarem”.

. Ray Bradbury in Prazer em Queimar .

Ensinamentos

“Todas as histórias verdadeiras contêm ensinamentos; em algumas, entretanto, o tesouro pode ser difícil de encontrar e, quando encontrado, se mostra tão insignificante que o fruto seco e murcho mal compensa o trabalho de quebrar a noz”.

. Anne Brönte in Agnes Grey .

Amor abnegado

“Há qualquer coisa no amor abnegado e sem egoísmo de um animal que vai diretamente ao coração de quem tido frequentes ocasiões de pôr à prova a amizade mesquinha e a fidelidade frágil do simples Homem”.

. Edgar Allan Poe in Histórias Extraordinárias .

Resenha: Os Homens Explicam tudo Para Mim

Livro: Os homens explicam tudo para mim
Autora: #RebeccaSolnit
Editora: @editoracultrix
Páginas: 208
Nota: 5/5

Li por recomendação da amiga e parceira @realidadeliteral e simplesmente achei a leitura essencial. É difícil dizer que gostamos de um livro recheado de estatísticas terríveis onde as mulheres são sempre silenciadas, violentadas, diminuídas, humilhadas e apagadas da história e da vida como se não fossem absolutamente nada ou inferiores pelo simples fato de serem mulheres.

Mas é um livro que precisa ser lido, estudado, refletido e que seja um “wake up call” para que estejamos sempre prontas a lutar contra isso, a falar, a mostrar que estamos cientes e que não somos a favor dessa onda descredibilizadora e que tende a nos anular.

A narrativa da autora é clara, objetiva e acertiva. Traz ensaios sobre os mais diversos temas relacionados a vida e morte das mulheres nos mais diferentes lugares do mundo e são dados necessários de serem conhecidos por nós e por isso a leitura essecial desse livro corajoso. Além disso, Rebecca também nos traz relatos de sua própria experiência, tratando da falta de credibilidade com que as mulheres são tratadas e que é apenas uma das muitas ferramentas de silenciamento da nossa voz.

Recomendo demais a leitura e poderia dizer aqui, refletindo uma cultura na qual fui inserida desde que nasci, que é um livro essencial para mulheres, mas quebrando esse ciclo, digo que é um livro essencial a todos!

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