Um pingo de chuva tocou a pele suave das longas mãos que seguravam com força o parapeito da encosta onde as ondas batiam com uma força assustadora. Abrindo os olhos grandes de tons esverdeados, ela avistou o horizonte onde um navio balançava como um brinquedo de criança. Para onde estaria indo?Europa? Talvez Ásia, ou Austrália?Para onde ela iria? Mais alguns pingos de chuva tocaram sua pele e ela virou o rosto para o céu, observando as nuvens escuras. Fechou os olhos e permaneceu nessa posição, a chuva batendo-lhe no rosto com suavidade no começo, e depois cada vez mais forte até que ela abaixou o rosto por não suportar a agressão dos pingos. Seus longos cabelos caíram do coque e começaram a pingar no chão. A água da chuva escorria por seu rosto, confundindo-se com suas lágrimas, seus dedos apertaram ainda mais o corrimão e a dor tornou-se muito aguda. Os trovões começaram a romper o silêncio em que estava envolvida e os raios iluminavam o mar revolto. O navio agora era menos que um ponto perdido na linha do horizonte e os olhos verdes não o podiam mais divisar. A água batia cada vez com mais força contra o corpo enfraquecido e penetrava pela pele fazendo-a estremecer diante de tal furor. As ondas agora, quase chegavam a altura de seus pés descalços nas pedras úmidas da encosta. Os sons se misturavam enquanto a luz oblíqua do fim de tarde tentava transpassar as pesadas nuvens. Sem conseguir vencê-las, deixavam o dia mergulhar numa escuridão leve, porém assustadora. A chuva continuava a escorrer por seu rosto assim como suas incansáveis lágrimas. A água fria contrastava com o quente líquido que escorria de seus olhos e tudo parecia aumentar a dor. Não importava o quanto apertasse o corrimão, não importava quão alto eram os barulhos da chuva e das ondas, não importava quantas lágrimas derramasse, nada podia parar aquela dor, nada podia fazê-la esquecer! Perdida em seu mar de sombras, açoitada pelo furor da chuva, não ouviu os passos se aproximando, só sentiu o toque no ombro e durante um instante continuou parada como estivera o tempo todo. Quando finalmente virou-se lentamente para o homem alto e moreno, fitando-o enquanto ele fazia o mesmo, a chuva tinha atingido o ápice de sua força, mas ambos pareciam não se importar. Talvez nada mais importasse naquele momento a não ser o que sentiam e o que estavam partilhando enquanto seus olhares se encontravam. Um raio iluminou seus rostos e um trovão quebrou o silêncio quase ensurdecedor que os envolvera antes que ela saísse de sua imobilidade e lentamente se encostasse ao corpo do homem que a abraçou gentilmente. Um vento forte começou a soprar fazendo com que os cabelos longos dela balançassem furiosamente, as árvores dobravam-se levemente diante de seu furor e as nuvens começaram a se espalhar tornando-se cada vez mais claras até que um raio de sol poente penetrou por entre suas brechas deitando uma luz pálida sobre a encosta e os dois jovens abraçados. Um pouco de calor penetrou no corpo de ambos quando o vento parou de soprar e ela parou de estremecer. As lágrimas ainda escorriam por seu rosto, mas agora sentia-se melhor, incrivelmente calma, como há tempos não se sentia. Talvez ainda houvesse uma esperança, talvez ainda houvesse uma chance… Suspirando, afastou-se um pouco do homem e sorriu-lhe entre as lágrimas. Era o começo de uma nova vida. E talvez, afinal, o início da paz.
. Lyani . { 02 de Abril de 2000 }
*atualizado em 07 de Agosto de 2008
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