Espíritos

“Quando a caravana aportou em Lisboa, os espíritos dos mortos continuaram a segui-los, e se alguém pudesse de fato vê-los talvez se espantasse de que acima do adormecido Spix, que descansava em uma cama de madeira escura, em um quarto cheio de móveis e bibelôs, na noite do dia 6 de outubro de 1820, havia pelo menos uma menina, um menino, três serpentes e um macaco a observar seu sono, todos colados ao teto, todos com seus grandes olhos que nunca se fechavam”

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Animais tristes

“Eu em nada creio, sou um rio. Eu vou e volto, conheço o chão e o céu, compartilho a língua comum a todas as águas. Atravesso o tempo. Morro e renasço. Engulo e regurgito. Sei dos animais tristes que são os homens”.

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Macho

“Fossem as mulheres a dar nomes às coisas, cidades, rios, passagens, montanhas, talvez percebessem melhor que nem tudo no mundo é definido como macho”.

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Desencontro

“Era certamente um enorme desencontro aquele, mas, sob essa pena, se olhavam e um tanto se reconheciam. Se sabiam ora tristes, ora apavorados, ora saudosos, ora enraivecidos”.

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Irmãos

“O menino Juri sentia coisas parecidas, e por habitarem agora em um mundo de palavras que ignoravam ambos se tornavam, de certo modo, irmãos”.

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Primeiros a morrer…

“Os bichos foram os primeiros a morrer. Em seguida, as crianças. O caminho do mar transformado em uma vala comum e inconstante. Crianças e bichos, todos tombados na água sem nenhum ritual, como duras tábuas de madeira despencadas em um túmulo semovente. Longe de suas famílias, nunca encontrariam o caminho para qualquer terra sem males onde pudessem se reunir com seus ancestrais”.

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .

Voz do Mundo

“Só quem está vivo consegue escutar a voz do mundo, entender sua linguagem, seu rumor, os ermos e luminescências de suas palavras, e por estar vivo é que consegue responder”

. Micheliny Verunschk in O Som do Rugido da Onça .