Resenha: Memórias de uma Moça Bem-Comportada

Livro: Memórias de uma moça bem-comportada
Autora: Simone de Beauvoir
Editora: @novafronteira
Páginas: 320
Nota: 5/5

Esse foi o primeiro livro que li da Simone de Beauvoir e já me conquistou totalmente. Memórias de uma moça bem comportada é uma autobiografia dividida em quatro partes onde Simone nos conta desde sua infância até sua vida adulta.

O tom de crítica à sociedade e aos papéis impostos às mulheres já começa pelo título e desenha toda a narrativa até o último parágrafo. Ao contrário do que imaginei, sua escrita é fluída e em muitos momentos me lembrou Clarice Lispector e Virgínia Woolf, muito embora Simone seja o típo de autora singular e originalíssima.

Também me identifiquei com sua personalidade em diversas passagens, sempre buscando a leitura, o conhecimento e aprender coisas novas, e se indignando com o único destino possível às mulheres de sua época: casamento e filhos. Em determinado momento se vê sozinha, já que seus pensamentos e opiniões fortes à afastam da mãe e da irmã e já tinha sido separada da melhor amiga e seu grande amor ZaZa já que a moça era vista como péssima influência a Simone já que eram muito parecidas.

Simone segue até a fase adulta fiel ao que acreditava, buscando conforto nos estudos por campos de atuação propositalmente contrários aos paradigmas de uma moça bem comportada, como a matemática e as línguas, e na leitura de livros proibidos às mulheres, sobretudo de Filosofia.

Tornou-se escritora, filósofa, intelectual, ativista e professora, além de ter sido Integrante do movimento existencialista francês e até hoje ser considerada uma das maiores teóricas do feminismo moderno.

“Serviria à humanidade; que melhor presente lhe podia dar do que livros?”.

Virei fã e destaquei inúmeras passagens maravilhosas. Já quero ler tudo dela e recomendo muitíssimo a leitura.

Deus

“Eu julgara e desprezara um padre: nenhum padre poderia jamais ser para mim o soberano Juiz. Ninguém na Terra encarnava exatamente Deus: eu estava só diante Dele. E conservava no fundo do coração uma dúvida: quem era Ele? Que queria ao certo? De que lado se achava?”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .

Méritos

“As alegrias e as tristezas dos homens correspondem a seus méritos”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça bem Comportada .

Meu lugar.

Eu resolvera há muito, consagrar a vida aos trabalhos intelectuais. Zaza escandalizou-se um dia, declarando, provocante: “Por nove filhos no mundo, como fez mamãe, é tão importante quanto escrever livros”. Eu não via denominador comum entre dois destinos. Ter filhos, que por sua vez teriam filhos, era repetir ao infinito o mesmo refrão tedioso. O sábio, o artista, o pensador criavam um mundo diferente, luminoso e alegre em que tudo tinha sua razão de ser. Nele é que eu queria viver; estava resolvida a conquistar o meu lugar”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .

“Eu estava só: pela primeira vez compreendi o sentido terrível dessa palavra, Só: sem testemunha, sem interlocutor, sem a quem recorrer. Minha respiração no peito, meu sangue nas veias, a confusão na minha cabeça, tudo isso não existia para ninguém”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .

Vida

“Eu amava a vida: não podia admitir que ela se transformasse amanhã em um lamento sem esperança”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .

Homem

“Papai gostava de dizer: ‘Simone tem um cérebro de homem. Simone é um homem.” No entanto, tratavam-me como menina. Jacques e seus colegas liam livros de verdade, estavam a par dos verdadeiros problemas; viviam ao ar livre; quanto a mim, fechavam-me num quarto de crianças. Não me desesperava. Confiava no futuro. Pelo saber, pelo talento, algumas mulheres haviam conquistado um lugar no universo dos homens Mas eu me impacientava com esse atraso que me era imposto”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .

Devorar

“Sempre que me encontrava só em casa, abastecia-me livremente dos livros da biblioteca. Passava horas maravilhosas, no fundo da poltrona de couro, devorando a coleção”.

. Simone de Beauvoir in Memórias de uma Moça Bem-Comportada .