Drummond é simplesmente maravilhoso e esse livro traz alguns poemas mais reflexivos em relação principalmente as relações e condição humana. Foi publicado em 1951, mas são versos que viajam através dos tempos e ainda hoje são muito atuais. Seus poemas versam a angústia do ser humano que se sente oprimido e esmagado. Incomodado e em busca das perguntas que precisam ser feitas e que nos fazem refletir sobre a vida, o amor, a ausência, o tempo e a própria poesia.
Não são perguntas fáceis de ser lidas, que dirá respondidas. Como no poema “Perguntas em forma de Cavalo-Marinho” onde questiona: “Que metro serve para medir-nos? Que forma é nossa e que conteúdo?”. E nesse mesmo poema:
“Contemos algo? Somos contidos? Dão-nos um nome? Estamos vivos? A que aspiramos? Que possuímos?Que relembramos? Onde jazemos?”.
Como se não bastasse, no poema “Confissão” nos pergunta “Do que restou, como compor um homem?” como quem pergunta como vai o dia… E finaliza dizendo: “Não amei bastante sequer a mim mesmo, contudo próximo. Não amei ninguém”. A introspecção da poesia de Claro Enigma, encontra ecos em nossos dias atuais, na situação atípica que vivemos, nas incertezas do amanhã e nas angústias de um presente que jamais imaginamos e explicita isso no poema “Cantiga de enganar” ao dizer-nos “O mundo é talvez: e é só”. e no poema “Estampas da Vida” no verso “Toda história é remorso”.
Mas traz também algum alento, em um de seus poemas mais lindos e que é um dos meus favoritos: “Amar” e que talvez seja a única pergunta que deveríamos nos fazer sempre e a única busca infinita a qual jamais deveríamos abrir mão ou deixar morrer, apesar de tudo:
“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? (…)Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor”.
Leitura super recomendada!
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