08.03 [21] Dia Internacional da Mulher

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher a Revista Caderno Poético fez uma edição inteirinha dedicada a mulheres maravilhosas da nossa literatura! Quer conferir na íntegra? Clique aqui.

Na Coluna “Poesia” Entre Aspas que tenho orgulho e honra de escrever para esta revista, falei sobre o livro “Mar Absoluto/Retrato Natural” da fantástica Cecília Meireles!! Vem conferir ❤

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Resenha: Claro Enigma

Livro: Claro Enigma
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Editora: @companhiadasletras
Nota: 5/5

Drummond é simplesmente maravilhoso e esse livro traz alguns poemas mais reflexivos em relação principalmente as relações e condição humana. Foi publicado em 1951, mas são versos que viajam através dos tempos e ainda hoje são muito atuais. Seus poemas versam a angústia do ser humano que se sente oprimido e esmagado. Incomodado e em busca das perguntas que precisam ser feitas e que nos fazem refletir sobre a vida, o amor, a ausência, o tempo e a própria poesia.

Não são perguntas fáceis de ser lidas, que dirá respondidas. Como no poema “Perguntas em forma de Cavalo-Marinho” onde questiona: “Que metro serve para medir-nos? Que forma é nossa e que conteúdo?”. E nesse mesmo poema:

“Contemos algo? Somos contidos? Dão-nos um nome? Estamos vivos? A que aspiramos? Que possuímos?Que relembramos? Onde jazemos?”.

Como se não bastasse, no poema “Confissão” nos pergunta “Do que restou, como compor um homem?” como quem pergunta como vai o dia… E finaliza dizendo: “Não amei bastante sequer a mim mesmo, contudo próximo. Não amei ninguém”. A introspecção da poesia de Claro Enigma, encontra ecos em nossos dias atuais, na situação atípica que vivemos, nas incertezas do amanhã e nas angústias de um presente que jamais imaginamos e explicita isso no poema “Cantiga de enganar” ao dizer-nos “O mundo é talvez: e é só”. e no poema “Estampas da Vida” no verso “Toda história é remorso”.

Mas traz também algum alento, em um de seus poemas mais lindos e que é um dos meus favoritos: “Amar” e que talvez seja a única pergunta que deveríamos nos fazer sempre e a única busca infinita a qual jamais deveríamos abrir mão ou deixar morrer, apesar de tudo:

“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? (…)Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor”.

Leitura super recomendada!
#blogentreaspas#poesiaemtudo#autornacional#leiamais

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

II

Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.

III

Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço,
Parte, remoto, para me não ter.

Fernando Pessoa in Novas Poesias Inéditas
Ática, 1973 (4ª ed. 1993).   p.90.

Identidade

“Um homem tem muitas mortes:
aquela que irá morrer porque nasce
aquela que matará o seu batismo
ou o simples nome que lhe é atribuído
enfim todas aquelas em que morrerão
as máscaras sociais
com que foi sendo vestida a sua vida”.

. Carlos Vogt in Poesia Reunida .

Tesouro Escondido

Sou bibliotecária, trabalho em uma biblioteca escolar e estava reunindo alguns livros de poesia para uma pesquisa com a professora de língua portuguesa, quando encontrei esse livro. Abri exatamente neste poema:

PARADOXO
O homem não crê
na humanidade
do homem.

E foi aí que o livro me engoliu pra dentro dele e não parei de ler mais, quase perdi a hora da atividade. Levei pra casa e terminei no final de semana. Não conhecia esse autora, mas os poemas dele me encantaram. São, em sua maioria, curtos, mas muito atuais e reais. As vezes cínicos, bastante críticos, cheios de reflexão. E toda leitura que traz reflexão, que faz pensar, vale muito a pena. Super recomendo. Um Tesouro escondido nas estantes da biblioteca.

Incompatível

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“Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com avida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isso que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive…”

. Florbela Espanca .

Resenha: Livro das Perguntas

Livro: Livro das Perguntas
Autor(a): Pablo Neruda
Editora:
 L&PM
Páginas: 155

Nota: 5
(sendo: 1- Não gostei 2- Gostei pouco; 3- Gostei; 4- Gostei bastante; 5Adorei)

Espetacular!

“As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que escorrem até a tristeza?”.

Perguntas. Perguntas poéticas maravilhosamente tecidas por Neruda de forma que você não consegue parar de virar as páginas. Cada pergunta te arranca um suspiro, um sorriso, um sinal de aquiescimento ou negativa. Realmente uma idéia espetacular, original e muito poética.

“Em que idioma cai a chuva
sobre as cidades dolorosas?”.

Leitura recomendadíssima!

Governar

Os garotos da rua resolveram brincar de governo, escolheram o presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.

– Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança.

Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará o meu lanche.

– Com que dinheiro? – atalhou Januário.

– Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do governo.

– E que é que nós lucramos com isso? – perguntaram em coro.

– Lucram a certeza de que têm um bom presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.

– Assim não vale. O presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.

– Eu sou o presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser presidente é moleza? Já estou sentindo como esse cargo é cheio de espinhos.

Foi deposto, e dissolvida a República.

Carlos Drummond de Andrade in Rick e a Girafa

Inteligentes demais…

“O ato essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas dos produtos do trabalho humano. A guerra é uma forma de despedaçar, de projetar para a estratosfera ou de afundar nas profundezas do mar materiais que, não fosse isso, poderiam ser usados para conferir conforto excessivo às massas e, em consequência, a longo prazo, torná-las inteligentes demais”.

. George Orwell in 1994 .

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