Resenha: Claro Enigma

Livro: Claro Enigma
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Editora: @companhiadasletras
Nota: 5/5

Drummond é simplesmente maravilhoso e esse livro traz alguns poemas mais reflexivos em relação principalmente as relações e condição humana. Foi publicado em 1951, mas são versos que viajam através dos tempos e ainda hoje são muito atuais. Seus poemas versam a angústia do ser humano que se sente oprimido e esmagado. Incomodado e em busca das perguntas que precisam ser feitas e que nos fazem refletir sobre a vida, o amor, a ausência, o tempo e a própria poesia.

Não são perguntas fáceis de ser lidas, que dirá respondidas. Como no poema “Perguntas em forma de Cavalo-Marinho” onde questiona: “Que metro serve para medir-nos? Que forma é nossa e que conteúdo?”. E nesse mesmo poema:

“Contemos algo? Somos contidos? Dão-nos um nome? Estamos vivos? A que aspiramos? Que possuímos?Que relembramos? Onde jazemos?”.

Como se não bastasse, no poema “Confissão” nos pergunta “Do que restou, como compor um homem?” como quem pergunta como vai o dia… E finaliza dizendo: “Não amei bastante sequer a mim mesmo, contudo próximo. Não amei ninguém”. A introspecção da poesia de Claro Enigma, encontra ecos em nossos dias atuais, na situação atípica que vivemos, nas incertezas do amanhã e nas angústias de um presente que jamais imaginamos e explicita isso no poema “Cantiga de enganar” ao dizer-nos “O mundo é talvez: e é só”. e no poema “Estampas da Vida” no verso “Toda história é remorso”.

Mas traz também algum alento, em um de seus poemas mais lindos e que é um dos meus favoritos: “Amar” e que talvez seja a única pergunta que deveríamos nos fazer sempre e a única busca infinita a qual jamais deveríamos abrir mão ou deixar morrer, apesar de tudo:

“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? (…)Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor”.

Leitura super recomendada!
#blogentreaspas#poesiaemtudo#autornacional#leiamais

Governar

Os garotos da rua resolveram brincar de governo, escolheram o presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.

– Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança.

Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará o meu lanche.

– Com que dinheiro? – atalhou Januário.

– Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do governo.

– E que é que nós lucramos com isso? – perguntaram em coro.

– Lucram a certeza de que têm um bom presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.

– Assim não vale. O presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.

– Eu sou o presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser presidente é moleza? Já estou sentindo como esse cargo é cheio de espinhos.

Foi deposto, e dissolvida a República.

Carlos Drummond de Andrade in Rick e a Girafa

Resenha: O Sentimento do Mundo

Livro: O Sentimento do Mundo
Autor(a): Carlos Drummond de Andrade 
Editora:
 Record
Páginas: 128

Nota: 4
(sendo: 1- Não gostei 2- Gostei pouco; 3- Gostei; 4- Gostei bastante; 5Adorei)

O Sentimento do Mundo!
Eu adoro Drummond. Suas poesias são cheia de “Sentimento do Mundo” e não falo só deste livro. Tudo que já li de Drummond até hoje traz como marca registrada muito sentimento. Este livro, além disso, é um livro contemporâneo, moderno e com várias críticas a sociedade, ao modo melancólico e um pouco sonhador de Drummond! O livro é dividido em três partes:

Alguma poesia, com poemas sobre o cotidiano, política, críticas a sociedade e algumas culturas que importamos para o Brasil. Confesso que esta foi a parte que menos gostei. Daqui destaco os poemas “Toada do Amor”, “Poema que Aconteceu” e “O Sobrevivente”.

Brejo das Almas, ainda sobre o cotidiano porém mais romântico, embora com toques de realidade. Destaco desta parte, “Soneto da Perdida Esperança”, “Segredo” e “Convite Triste”.

Sentimento do Mundo, a parte que mais gostei do livro. Emoção, cotidiano, crítica e romance tudo junto. O sentimento do mundo literalmente. Destaco “Sentimento do Mundo”, “Os ombros suportam o mundo”, “Mãos Dadas” e “Mundo Grande”. Deste último poema citado, segue um dos trechos mais lindos de Drummond, em minha opinião:

“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar”.

Leitura recomendada!

Feliz Natal e Feliz Ano Novo

Rever o passado olhar com olhos calmos pro meu presente e fazer o possível para não ficar pensando no futuro – ao menos nesse futuro daqui alguns anos que ninguém na verdade sabe se chegará. Fecho os olhos e começo a pedir. Não são coisas muito complicadas de serem atendidas. Ao menos eu acho que não. Apenas me concentro em cada rosto que já conheci até hoje e nos sentimentos que tenho por cada uma dessas pessoas. Que não nos faltem bons sentimentos sejam no Natal ou em qualquer dia do Ano Novo que se aproxima…”.

Caio Fernando Abreu .

 

Receituário Sortido

Calma.
É preciso ter calma no Brasil
calmina
calmarian
calmogen
calmovita.

Que negócio é esse de ansiedade?
Não quero ver ninguém ansioso.
O cordão dos ansiosos enfretemos:
ansipan!
Ansiotex!
ansiex ansiax ansiolax,
ansiopax, amigos!

Serenidade, amor, serenidade.
Dissolve-se a seresta no sereno?
Fecha os olhos: serenium,
serenex…

Dói muito o teu dodói de alma?
Em seda e sedativo te protejas.
Sedax, meu coração,
sedolin
sedotex
sedomepril.
Meu bem, relaxe por favor.
Relaxan
Relaxatil.
Batem, batem à porta? Relax-pan.

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